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1 de maio de 2018

'Nunca ter a tentação de parar nos momentos difíceis.'





Comecei a praticar pole dance depois de ter o meu terceiro filho. Eu queria fazer algum exercício, alguma atividade, porque estava há muito tempo parada, e como tive três pequenos muito seguidos, eram praticamente três bebés, que eu tinha de carregar. Quando vivia no Canadá, estava sozinha, não tinha ajuda nenhuma, encarregava-me de tudo, e comecei a sentir falta do exercício, de ter as posturas corretas, comecei a ter tantas dores na costas que por vezes não me conseguia levantar de manhã e fiquei com medo, porque quando tens filhos tens responsabilidades. Ou seja, eu pensei fazer pole dance por causa dos meus filhos! É engraçado...

A fisioterapia não me ajudava e vi uns vídeos na internet e parecia muito giro, pensei "É uma coisa muito bonita, é espetacular, quero fazer isso"... e assim aconteceu, fui experimentar vários estúdios em Montreal, encontrei um de que gostava e repeti o curso de iniciante três vezes porque achava que não conseguia, que era difícil e cada vez que fazia, doía mais. O corpo ganha contraturas, mas tens de seguir e vencer esta dor e depois, ao fim de um ano, já estava muito bem fisicamente e, entretanto, já tinha comprado uma barra para treinar em casa, porque com os pequenos era difícil sair, e os pequenos também começaram a subir e a descer, também adoraram. 

Quando eu era criança, na Rússia, fazia dança, adorava ir patinar, esquiar, subir às arvores, enfim, como todas as crianças. Na escola, a educação física era muito importante: um dos testes era subir à corda e subir à barra, tínhamos uma barra fixada no teto para subir e eramos avaliados por isso...mas eu nunca conseguia, nunca consegui! 

Mas lá na Rússia há uma visão com a qual eu não concordo nada. Lá as pessoas são rejeitadas, se veem que não tens capacidade física, e eu ficava sempre como uma criança com desenvolvimento físico baixo-médio. Fui qualificada, etiquetada, assim, e vivi com este preconceito de que coisas de educação física não eram para mim. De início etiquetam-te, e eu achava que isso era normal, porque de criança é o que tens, é o teu mundo e não sabes que existem outros sistemas. Por exemplo, nunca apostei no ballet, porque não era flexível o suficiente e, então, eu não tentava porque já sabia que não conseguia... eu não tentava... percebes? 

Se fosse um atleta com potencial olímpico apostavam, senão rejeitavam, mas a nível humano acho que isso não compensa. É classificar a pessoas... Quando tive os meus filhos, e comecei a ler sobre educação de infância, percebi que não é assim e comecei a abrir os olhos. Não podes classificar a crianças porque isso define a vida das pessoas. 

Depois decidi vir do Canadá para Portugal, e a minha instrutora lá mostrou-me um movimento que era muito difícil e que eu achava que nunca iria conseguir fazer e ela disse "Tu vais conseguir fazer!" E respondi "Se eu fizer este movimento quando for lá a Portugal, vou abrir um estúdio de pole dance!" E consegui. 

Fiquei mesmo enamorada da pole dance porque é uma coisa tão completa, tão bonita, envolve plástica, flexibilidade, força, espírito, é uma coisa que te faz querer seguir novos desafios porque habituas-te a algo que tu achavas que nunca irias conseguir fazer e de repente conseguiste, e outra, e outra, e outra... e aprendes que qualquer pessoa é capaz de atingir o que quiser com trabalho constante, e que não é uma coisa de outro mundo. É esta transformação na pessoas que eu adoro ver. 

Tudo na nossa vida é assim, nós achamos que não somos capazes de conseguir, mas quando sabemos onde estamos e onde queremos chegar e temos a disciplina constante e o trabalho duro, é isso que nos faz converter os nossos sonhos em realidade. É mesmo estar focado, pensar: "Eu com as minhas capacidades consigo começar e fazer o caminho". E não importa se eu chego até onde aquele chegou, eu tenho é que me comparar com quem eu era há um ano, e não com o outro, e saber excluir o que os outros estão a pensar e focarmo-nos nos nossos próprios objetivos, porque por vezes há tanto barulho exterior que não nos deixa fazer o que nós queremos fazer realmente. 

Se as pessoas procuram a pole dance por motivos eróticos? Qualquer dança é a expressão das nossas emoções, a dança de varão pode ser tanto erótica, desportiva, contemporânea... A dança sempre ajuda à atratividade, mas qualquer dança pode ajudar, pois ganhas controle do teu próprio corpo. Vais ao ginásio para ganhar músculos para ficares mais atrativo. Nós os seres humanos sempre temos esta parte erótica na cabeça, quando fazes dança isso também está presente. 

Se este trabalho me faz feliz? Eu não diria que me faz feliz, porque eu nunca quis ser feliz... Ser feliz, para mim, não é um objetivo, não percebo o que isso quer dizer...mas acho que preciso de ter a vida cheia de sentido. Quando tu consegues afetar a vida dos outros e ver que os outros mudaram, ficaram melhor por tua causa, isso enche-me de sentido. 

Ouvir as pessoas a dizer "Eu conheci-te e a minha vida mudou", é isso que não tem preço nenhum. Mudam porque ficam com mais segurança, mais contentes no trabalho, nas relações pessoais. Uma pessoa que quando quer alguma coisa pensa no que precisa de fazer para conseguir, e não no medo de fazer, isso é outra atitude! 

Alguma coisa de que não goste neste trabalho? Não tenho nada que não goste neste trabalho... Ok, as mãos! As minhas mãos ficam assim cheias de calos, ninguém me quer pegar nas mãos, o meu "ex" dizia que as minha mãos são horríveis... E, também, claro, por vezes, quando estás em baixo não te apetece vir dar aulas, mas entro aqui e esqueço tudo, às vezes acaba a aula e eu penso "Nem pensei nos meus filhos"... entras num estado...eu não penso em nada, tudo fica...não sei como explicar... 

A pole dance mudou-me como pessoa. Eu achava que não valia para nada, e que era tímida, e agora todos me dizem que tenho jeito para negócios. E tenho imensas ideias, disciplina e autoconfiança. As pessoas vêm aqui com uma ideia de que vão ser mais atrativas na relação e eu digo: "Vocês tenham cuidado porque foi por causa da pole dance que eu me divorciei! Vocês vêm para ficar com um companheiro, mas pode ser o contrário, podem se separar, eu não me responsabilizo por nada!" Porque isto ajudou-me a ganhar confiança e a ver o que preciso. 

Também o meu "ex" nunca gostava do que eu fazia, e eu achava estranho estares com uma  pessoa e ela não gostar do que tu fazes, e depois comecei a estudar contabilidade, e ele também não gostava, e eu pensei "Se esta pessoa não gosta de nada do que eu estou a fazer, não gosta de mim, para que é que vou estar com ele?" E eu senti isso no corpo: com três crianças pequenas num país em que não tens família, não falas a língua, não tens trabalho, não te vais divorciar, isso seria o que os malucos fariam... mas eu fiz! Porque eu tinha esta confiança de que ia conseguir. 

O conselho que dou para praticar pole dance é nunca ter a tentação de parar nos momentos difíceis, porque é o que mais custa. 

Para ser um excelente professor é preciso ver o que precisa cada pessoa. E também ter muita paciência e saber que há pessoas que começam a aprender e que quando chegam a um nível que começa a ser difícil desistem. É normal, é como em qualquer curso, mas há professores que se desesperam com isso e pensam "Aquela pessoa desistiu porque fiz algo de errado". Temos de ver as especificidades de cada um. 

Eu acho que acrescento à vida dos outros segurança, disciplina e capacidade de seguir no que fazem sem pensar demais na opinião dos outros. Isso é fundamental! 

É mesmo saber estar concentrado e focado no que fazes. É um "músculo especial" na nossa cabeça que treinamos para isso... o cérebro como um músculo, acho que isto treina uma parte do cérebro que depois funciona em todas as situações... eu chamaria a esse músculo "indiferença", "ser burro", saberes o que tu queres, e porquê. E se os outros opinam, tu vês se é preciso ouvir essa opinião ou não, e se não, tu cortas! É não te deixares confundir! 

O que me mantém motivada todos os dias são os meus filhos, o seu sorriso, e o Studio Up. Este estúdio de pole dance é o meu quarto filho, é o meu projeto, uma coisa pela qual eu lutei. Todos diziam que eu não ia conseguir, todos se riam de mim... É como um símbolo de que eu consigo o que quero. É um símbolo do meu "músculo especial" do cérebro. 

| Luba |

Sobre o Projeto:

Qual é a história da pessoa que conhecemos a fazer o seu trabalho? O que é que a faz feliz na sua função? E infeliz? De que forma aquilo que faz influencia a pessoa que é? Como é que ela pensa que o seu trabalho ajuda os outros a ter uma vida melhor? O que é que a motiva a continuar todos os dias? Num mundo em que cada vez mais se exigem resultados, e a energia escasseia para ver verdadeiramente o outro, este é um projeto fotográfico e de storytelling sobre a face humana do trabalho.

Com a fotografia tento captar a 'essência' da pessoa, a sua individualidade, a sua verdade, e por isso evito que se esconda atrás do seu sorriso, se este não for natural. Gosto de a fotografar no seu contexto profissional para que possamos ver o "humano no trabalho", utilizo apenas a luz que existe nesse local e, por último, optei pelo preto e branco para que a cor não seja uma distração ao essencial: para que as marcas da vida, as rugas, a emoção no olhar e as formas do rosto e do contexto fiquem mais evidentes e intensas.

Aqui interessa-me a recolha da história simples e sintética da pessoa na sua relação com o trabalho, como este o transforma enquanto ser humano, e de que forma ajuda os outros. Escrevo as palavras tal e qual como me são ditas para não contaminar a verdade do entrevistado com correções e com as minhas interpretações.

| Vítor Briga |
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Vítor Briga
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