Tornei-me cabeleireiro devido a algo de que não estamos conscientes e que é o que nos põe no local certo, à hora exata, no momento certo, a fazer aquilo que temos de fazer. Nós, às vezes, pensamos que "eu sou isto", "sou aquilo", "vou por ali", "vou fazer isto", "vou estudar", e não sei que mais..., quando podemos já trazer registos ou matrizes em que divinamente somos colocados: "tu agora vais para ali!" e quase nem temos mais nada a fazer. É só seguir...
Seguir a mente humana não tem mal nenhum, mas estar conscientes de que também existe uma mente divina, também, provavelmente, não tem.
O que me faz feliz neste trabalho é a esperança de poder ajudar as pessoas em níveis de consciência dos quais nós não estamos conscientes. Mesmo que eu te queira estar a dizer este é o tipo de ajuda que te estou a prestar, eu não estou consciente de todo, nem de quase de nada, do tipo de ajuda que eu te estou a dar ou tu a mim. Porque nós somos uma troca... de energia. Uma troca, enfim, de tudo o que nos rodeia.
Isto, para mim, não é só cortar o cabelo, é um encontro. Eu acho que seria uma pessoa mais rica se conseguisse estar aqui a cortar o cabelo a Jesus. Seria um outro ser provavelmente. E será que Jesus não está em todos que vêm aqui cortar o cabelo? Provavelmente está. Se eu puder fazer alguma coisa para ajudar a quem estou a cortar o cabelo, a encontrar o Jesus que está nele e ele ajudar-me a encontrar o que está em mim, ótimo!
O que me pode fazer infeliz é quando noto que há uma resistência do outro lado a uma nova consciência. Não estou a dizer que isso é bom ou que é mau, porque cada ser está num processo evolutivo, e eu não posso querer que alguém que esteja agora a brotar, a germinar do solo, já esteja em flor ou em fruta a amadurecer.
Há muitas histórias marcantes neste trabalho mas assim de repente não estou a ver uma para te destacar. Eu levo para casa todos os momentos porque nós acabamos por ser uma parte de todos aqueles que conhecemos.
O que me faz continuar todos os dias? Fazer a vontade ao Pai. Tentar, pelo menos...
O que é o Pai? É esta força que nós estamos habituados a achar invisível e que torna tudo isto possível.
Sobre o Projeto:
Qual é a história da pessoa que conhecemos a fazer o seu trabalho? O que é que a faz feliz na sua função? E infeliz? De que forma aquilo que faz influencia a pessoa que é? Como é que ela pensa que o seu trabalho ajuda os outros a ter uma vida melhor? O que é que a motiva a continuar todos os dias? Num mundo em que cada vez mais se exigem resultados, e a energia escasseia para ver verdadeiramente o outro, este é um projeto fotográfico e de storytelling sobre a face humana do trabalho.
Com a fotografia tento captar a 'essência' da pessoa, a sua individualidade, a sua verdade, e por isso evito que se esconda atrás do seu sorriso, se este não for natural. Gosto de a fotografar no seu contexto profissional para que possamos ver o "humano no trabalho", utilizo apenas a luz que existe nesse local e, por último, optei pelo preto e branco para que a cor não seja uma distração ao essencial: para que as marcas da vida, as rugas, a emoção no olhar e as formas do rosto e do contexto fiquem mais evidentes e intensas.
Aqui interessa-me a recolha da história simples e sintética da pessoa na sua relação com o trabalho, como este o transforma enquanto ser humano, e de que forma ajuda os outros. Escrevo as palavras tal e qual como me são ditas para não contaminar a verdade do entrevistado com correções e com as minhas interpretações.
| Vítor Briga |
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