Tornei-me professor de meditação há cerca de trinta anos. Criei um projeto para miúdos abandonados em que os pus todos a meditar. E vi a diferença entre o antes e o depois nos miúdos. A partir daí rendi-me completamente à meditação transcendental. Eles tinham entre os sete e os catorze anos. Mudaram completamente. Ficaram crianças felizes. As pessoas diziam que não pareciam miúdos abandonados. Foi uma inspiração para me tornar professor de meditação. Gostava muito e na altura pensei: que felicidade ver os miúdos que eu tanto gosto, porque eu gostava muito deles, vê-los tão felizes.
O que me faz feliz neste trabalho é ver os outros felizes. Não há nada que eu possa dizer que não goste neste trabalho. Preenche-me completamente. Como diz Maharishi: "A vida é para viver a 'duzentos por cento'".
Eu não devia dizer isto, mas entre os vinte e os trinta dizia que queria partir... morrer aos quarenta anos. Era porque tive uma juventude e um período ali durante a adolescência muito complicado que me deixou marcas de ansiedade e de angústia e dizia "aos quarenta não quero viver!". Depois algo mudou a partir do momento em que comecei a meditar.
Esta profissão mudou-me totalmente. Mudou tudo. Comecei a levar a mente, portanto, ao estado transcendental da vida. Aquilo que a Bíblia diz "O reino dos céus está dentro de nós" e que eu procurei toda a vida, até porque eu sou católico, rezava, ia à missa, ia para retiros para Fátima, e nunca encontrei isso. E a partir do momento em que comecei a levar a mente à quietude, à seiva, à fonte do pensamento, mudei completamente para estados de felicidade.
Tenho muitas histórias que me marcaram. Tenho um miúdo, na escola de Penafiel, que depois de meditar saltou. Deu um salto de felicidade e perguntou-me: "Professor, o que é que me fez? O que é isto?". Num estado completamente... "Eu não fiz nada. Tu é que foste lá.", disse-lhe.
As pessoas depois de fazerem iniciações fazem verificações comigo durante anos e anos. Sou como um padre ou um psicólogo. É para a vida toda. É uma ligação do campo transcendental da vida. É uma ligação de amizade tão profunda, tão profunda que não há explicação. Nem na família. Eu fico mais ligado às pessoas que ensino a meditar do que propriamente à família de sangue. Eu se vir um meditante, para mim é uma festa. É uma parte de mim. É emocionante porque com estas pessoas eu digo que ia viajar com elas, viver com elas, faziam parte da minha vida e estaria sempre bem.
O que aconselho a quem quer ser professor de meditação? O mais simples: é só desejar. E para ser um excelente professor de meditação é preciso meditar todos os dias como Maharishi aconselha. E seguir o conhecimento védico em toda a sua pureza. Só isso.
O que trago de bom à vida das pessoas? A vida! Não há mais nada do que a vida. O caminho de Deus que já está dentro delas. O reino dos céus está dentro delas. E é realmente descobrir a vida a 'duzentos por cento' como Maharishi diz. É completamente diferente. É passar a ver a luz que está dentro da pessoa e que não a via. Tanta coisa que se pode dizer sobre isso.
O que me motiva todos os dias é pensar que cada vez mais posso tornar um país diferente e feliz. Todos os portugueses. O meu desejo é que tenham paz e felicidade. É isso que me mantém. Eu penso em mim, quero ser feliz. E se eu quero ser feliz, também quero ver os outros.
| Nelson |
Sobre o Projeto:
Qual é a história da pessoa que conhecemos a fazer o seu trabalho? O que é que a faz feliz na sua função? E infeliz? De que forma aquilo que faz influencia a pessoa que é? Como é que ela pensa que o seu trabalho ajuda os outros a ter uma vida melhor? O que é que a motiva a continuar todos os dias? Num mundo em que cada vez mais se exigem resultados, e a energia escasseia para ver verdadeiramente o outro, este é um projeto fotográfico e de storytelling sobre a face humana do trabalho.
Com a fotografia tento captar a 'essência' da pessoa, a sua individualidade, a sua verdade, e por isso evito que se esconda atrás do seu sorriso, se este não for natural. Gosto de a fotografar no seu contexto profissional para que possamos ver o "humano no trabalho", utilizo apenas a luz que existe nesse local e, por último, optei pelo preto e branco para que a cor não seja uma distração ao essencial: para que as marcas da vida, as rugas, a emoção no olhar e as formas do rosto e do contexto fiquem mais evidentes e intensas.
Aqui interessa-me a recolha da história simples e sintética da pessoa na sua relação com o trabalho, como este o transforma enquanto ser humano, e de que forma ajuda os outros. Escrevo as palavras tal e qual como me são ditas para não contaminar a verdade do entrevistado com correções e com as minhas interpretações.
| Vítor Briga |